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Em busca de uma solução para o Cerrado

carneiro no cerrado

Arnaldo Carneiro: O Cerrado é o espaço dos falsos dilemas

Em março deste ano, o pesquisador Arnaldo Carneiro saiu em expedição Cerrado adentro para levantar material sobre atual geografia de ocupação do bioma.

Levou consigo o filmmaker Todd Southgate pra registar tudo que visse e ouvisse no caminho. Recolheu um super material com vozes de vários atores ligados aos problemas do uso insustentável do bioma. Autoridades, cientistas, cerradenses, geraizeiros,  quilombolas, etc.

Partiram de Brasilia em direção ao Matopiba e durante 10 dias percorreram 3,8 mil km dentro.

Arnaldo conta que o Cerrado virou um espaço de disputa de falsos dilemas: “a produção acredita que a conservação atrapalha o seu negócio, e os conservacionistas acreditam que a produção vai engolir todo o Cerrado”, afirma. “Mas a verdade, é que há espaço para todas as agendas: social, econômica e da conservação.”

Mudança do clima

O documentário também aborda como a crise do clima afetará o bioma. Segundo Carneiro, os impactos tendem a ser graves e não deverão poupar a agricultura empresarial. “Com a mudança do clima, a agricultura que se expande para o Matopiba poderá ser efêmera”, alerta.

Ele ouviu a professora Mercedes Bustamante, do Departamento de Ecologia da UnB, que também prevê um cenário difícil para a agricultura na região, “com a mudança do clima, os custos com defensivos e fertilizantes deverão crescer enormemente para manter a produção”, avalia.

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Mercedes Bustamante (Eco/UnB): sem sustentabilidade, a agricultura vai sofrer

Mas Carneiro aponta soluções. “Temos de olharmos as terras já ocupadas, elas podem ser um campo de expansão da produção”, avalia. “Trata-se de uma área de 35 milhões de ha com aptidão para receber agricultura”, garante.

Produzir é conservar – Já alguns anos Carneiro vem estudando a transformação por que passa o Cerrado. Recentemente publicou um estudo sobre o tema, que serviu de base para a rota da expedição. Veja aqui: Produzir é conservar.

O documentário ainda não está pronto. Parte da narração está em inglês e ainda não tem legendas. Mas o material já é uma aula sobre o Cerrado. Clique no link abaixo:

Em busca de uma solução para o Cerrado

 

carneiro quilombola

Quilombola: 80% de suas áreas no Tocantins foram invadidas pelo agronegócio

 

Cerrado – Quem ama cuida

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Espécie típica do Cerrado em área convertida em Pasto – Região do Entorno/DF

O Cerrado percentualmente é mais desmatado do que a Amazônia, mas mobilização comunitária é chave para a solução

O Cerrado é considerado a savana com maior número de espécies vegetais e animais do planeta. No entanto, a crescente ocupação humana vem diminuindo sua área ano após ano. Cerca de 46% da área original já foi destruída, segundo dados do Projeto TerraClass 2013, organizado pelo Ministério do Meio Ambiente.

Apesar de já ter perdido mais área proporcionalmente do que a Amazônia, o Cerrado sempre foi preterido em relação a ela. Enquanto a Amazônia goza de um sistema de monitoramento constante por satélite desde 1998, o desmatamento do Cerrado só é analisado ocasionalmente, como aconteceu no ano passado com a publicação do TerraClass – mesmo assim com dados de 2013.

Mas que foram suficientes para mostrar o tamanho do problema. Esse estudo serviu também para deixar claro as principais causas da destruição. Todas eles de difícil solução, mas possíveis de serem derrotadas. A primeira delas, não necessariamente a mais grave, é o uso de galhos e troncos das árvores do Cerrado para produção de carvão vegetal e lenha.

Para quem não sabe, o carvão vegetal é muito utilizado na indústria siderúrgica, principalmente para produzir imóveis e automóveis, objeto de desejo de todos e cada um de nós.

Já a produção de lenha serve para abastecer cadeias produtivas de pequeno e médio porte, como a indústria têxtil, por exemplo. E, por incrível que pareça, fogões e lareiras de milhares de residências de alta e baixa renda de todo o Brasil. (Classes sociais distintas na renda, mas que caminham de mãos dadas na destruição do nosso patrimônio florestal.)

A pecuária é outra atividade de altíssimo impacto no Cerrado. A opção nacional pela criação de gado extensiva, exige, ano após ano, mais e mais substituição de áreas nativas para pasto. Seja em terras públicas ou privadas.

Junta-se a isso a baixa fiscalização dos órgãos federais e estaduais, que carecem de pessoal e equipamento para agir contra os crimes ambientais.

DF – Na Capital do Brasil a situação não é nada boa. Dados desse mesmo estudo mostram que 48% da extensão territorial do DF é ocupada pela agropecuária e 10% por manchas urbanas, o que corresponde a 58% de área natural convertida.

De vegetação natural sobraram apenas 42% do total. O que eleva o DF à quinta unidade da federação com mais áreas desmatadas. Só perdemos para São Paulo, com 81%, Mato Grosso do Sul, com 67%, Goiás 57% e Paraná com 58%. Veja gráfico.

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Gráfico 1. Distribuição das frequências das classes de uso do solo e cobertura da terra no Cerrado,  por estado

Outro dado negativo é que, no DF apenas 4% de sua área foi destinada a unidades de conservação, sejam distritais ou federais. (O estudo não incluiu áreas das Unidades de Conservação classificadas como APAs, por serem muito flexíveis à conversão da vegetação nativa).

E pior, abrigamos no DF a terceira unidades de conservação federal com maior área de vegetação natural destruída. A Floresta Nacional de Brasília apresentava em 2013, 69,75% de desmatamento acumulado.

IBRAM – As unidades distritais também têm sofrido um bocado. Segundo dados do Instituto Brasília Ambiental (IBRAM) 19 tiveram a vegetação nativa de sua área integralmente convertida, seja por invasão privada, seja por consequência de descartes de entulho, ou para cultivos de exóticas.

Exemplo disso, é o parque Dom Bosco, perto da barragem do Lago Paranoá. Apesar de preservar cinco fisionomias diferentes do cerrado, entre matas de galaria, cerrado denso, entre outros, essa área vem sendo assediada desde a época da construção da capital.

Lá dentro, dá de tudo, solo exposto, devido à erosão, e até invasão para produção agrícola. Veja mapa:

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Não que ocupação seja errada, muito pelo contrário. Quanto maior o interesse das pessoas pelos parques, menos expostos eles ficarão aos crimes ambientais.

Exemplo disso, é o Parque Sucupira, que margeia o Eixo Monumental. Criado em 2005, ele conta com um grupo de pessoas engajadas na restauração da vegetação nativa e preservação dos remanescentes.

No Facebook, o parque tem uma comunidade que conta com 752 membros. Gente ativa que está sempre de olho no cuidado com o parque. E o melhor, organizam eventos que conjugam lazer e educação ambiental. A final de contas, como diz o ditado: “quem ama cuida”.

SEMA – O Decreto nº 37.115, de 16 de fevereiro de 2016, criou o programa Brasília nos Parques, cujo objetivo é justamente incentivar a população a se apropriar das áreas verdes das cidades e, de acordo com as peculiaridades de cada parque apresentar à população lista de ações a serem desenvolvidas durante o ano. As ações do programa Brasília nos Parques são coordenadas por um comitê gestor composto por 11 órgãos governamentais e colegiado é coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente.

Outra importante iniciativa é a Virada do Cerrado, um programa colaborativo, envolvendo todo o Sistema Distrital do Meio Ambiente e que a partir de parcerias entre a população e o governo local desenvolve ações de educação socioambientais no desafio da cuidado e da preservação do cerrado.

O que é floresta?

Rosana no açaizeiro

Moradora de várzea na Ilha do Marajó (PA)

Em março deste ano, mais de 100 organizações do mundo enviaram uma carta à FAO apelando para que essa instituição da ONU mudasse sua definição enganadora de florestas (1). A FAO aplica uma definição reducionista, que tem como único critério a presença de árvores e desconsidera a floresta como terra onde vivem e do qual dependem diferentes tipos de flora e fauna, e também comunidades locais. Segundo a definição do FAO, chamam-se ‘florestas’, por exemplo, as vastas monoculturas de eucalipto de rápido crescimento, manejadas com produtos tóxicos.
 
Dois pesquisadores ligados ao Centro para Pesquisa Florestal Internacional, CIFOR, também argumentam que isso é algo inaceitável, em um artigo na revista Biotrópica, chamado “Futuros de Florestas Tropicais” (2). Eles mostram que a definição da FAO sugere que há regiões no mundo onde ‘ganhamos’ áreas de ‘florestas’ quando se introduzem monoculturas industriais de árvores em áreas onde antes não havia uma vegetação com predomínio de árvores. São, por exemplo, áreas de cerrado ou pastagens naturais, ecologicamente tão excepcionais e ricas quanto as florestas. A conclusão é clara: é preciso mudar a atual definição de florestas para algo bem mais de acordo com a realidade.
 
Mas como fazer isso? Os pesquisadores citados defendem outra referência para falar de floresta. Em inglês, chamam de ‘old growth forest’, algo como ‘uma floresta que teve bastante tempo para crescer’. Seria uma área onde as árvores naturalmente regeneradas têm mais idade do que o tempo dos ciclos de corte usados na lógica da produção de um volume sempre maior de madeira, e com muito mais diversidade do que em florestas manejadas para extração de madeira. A nova referência resultaria, segundo os autores, em florestas capazes de resistir melhor a choques ambientais e outros fatores de estresse, algo bastante pertinente em tempos de mudanças climáticas.
 
É bem verdade que o ciclo de corte aplicado às monoculturas de árvores é curto. Mesmo que empresas de eucalipto façam campanhas com lemas como “Nosso futuro tem raízes”, como a Aracruz Celulose (a atual Fibria) fez no Brasil anos atrás, ninguém se engana: o ciclo de corte na monocultura de eucalipto, por exemplo, pode ser, hoje em dia, de incríveis 2 anos – para plantações com fins de energia – ou de 5 a 7 anos – para fins de celulose. O tempo do corte seletivo de árvores centenárias para obter madeira em áreas do chamado ‘manejo florestal sustentável’ gira em torno de apenas 15 a 30 anos, levando também à destruição da floresta, apenas de uma forma mais lenta (veja Boletim 197 do WRM).
 
Os pesquisadores do CIFOR também lembram que, até agora, quem discute e define o futuro de áreas de floresta tropical no mundo muitas vezes vem de fora. O modelo de plantação de monoculturas de árvores para obter madeira surgiu na Europa e levou, inicialmente, à criação do curso universitário de engenharia florestal. Um olhar mais local evitaria a tentativa, por parte de empresas e consultores de fora, de generalizar argumentos frágeis, até mesmo mentirosos. Por exemplo, o argumento de que introduzir a ‘floresta’ de monocultura industrial de árvores reduziria a pressão sobre as florestas (nativas). Os pesquisadores mostram que essa afirmação só se revelou certeira no caso de Nova Zelândia, mas se mostrou falsa em relação a outros países com outros contextos. Há muitos anos, organizações que apoiam as lutas contra as monoculturas industriais de árvores, incluindo o WRM, já estão dizendo isso.
 
Para as florestas terem futuro, os pesquisadores defendem que é preciso enxergar as funções essenciais que elas cumprem e reconhecer seus múltiplos benefícios. Significa que não só é necessário ampliar o olhar do engenheiro florestal – geralmente voltado apenas a maximizar a produção de madeira – mas também envolver outros olhares, considerando as múltiplas dimensões das florestas – sociais, culturais, inclusive religiosas, e ecológicas. Os pesquisadores defendem, inclusive, que as florestas precisam ser pensadas e manejadas também por aqueles que de fato vivem na região, inclusive pelas comunidades locais que delas dependem. Mas, conforme o WRM e outras organizações têm mostrado, um importante entrave a isso tem sido as relações de poder muito desiguais, injustas, levando à violência. Um pequeno grupo de interesses privados, politicamente influentes, sempre busca enfraquecer comunidades locais nas suas lutas árduas para evitar a destruição da floresta.
 
Este boletim busca contribuir não só para mostrar o valor das florestas, a devastação e as lutas de resistência, mas também para lembrar a diversidade de florestas que existe. Qualquer uma dessas florestas tem se mostrado capaz de criar raízes suficientes para resultar em um ambiente benéfico onde comunidades também possam criar suas raízes.
 
Talvez isso exemplifique bem a mensagem dos pesquisadores da CIFOR, mas, dito de outra forma, uma floresta, para ser floresta, precisa criar raízes. É isso que faz com que comunidades locais também possam criar suas raízes no local e estabelecer uma relação de convivência com a floresta. Onde há monoculturas ou outros tipos de manejo intensivo, com ciclos de rotação curtos e destrutivos, é óbvio que não há como criar raízes, nem mesmo com propagandas artificiais de efeito como já tentou fazer a Aracruz Celulose.
 
O problema é que aquelas poucas pessoas que definem o futuro das florestas hoje não enxergam bem isso, e são, de certa forma, cegas quando só têm olhos para a produtividade da madeira acima do solo e para o lucro que pode ser obtido com ela em mercados externos. Mas, há muito tempo, as milhões de pessoas que dependem das florestas já sabem da importância que elas têm na sua vida e, por isso, travam suas lutas diárias para defendê-las.
 
(1) Carta aberta à FAO, WRM,http://wrm.org.uy/es/todas-las-campanas/carta-abierta-a-la-fao-
en-ocasion-del-dia-internacional-de-los-bosques-21-de-marzo-de-2014/

(2) Putz, Francis and Claudia Romero. “Futures of Tropical Forests”, Biotrópica 46 (4): 495-505, 2014. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/btp.12124/abstract
 
Fonte: World Rainforest Movement

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Autuação de Pedro Passos revela velha prática de fazendeiros do Cerrado

Ibama autua Pedro Passos por madeira sem licença ambiental http://tinyurl.com/4looec9

Até acredito na versão do ex-deputado distrital, Pedro Passos, segundo a qual as madeiras não foram nem compradas, nem seriam vendidas.

É comum, na região do Cerrado, o uso de madeira da Reserva Legal para obras dentro da própria fazenda: cerca, curral, etc.

Tem até a figura do “gambireiro”. Profissional autônomo, que identifica e derruba as árvores para o fazendeiro.

No Distrito Federal e região do Entorno, o “gambireiro” cobra R$ 6,00 por árvore que derruba. Isso se for nativa. Eucalipto é mais barato.

Às vezes a transação com o dono da fazenda não envolve dinheiro – prática aliás comum no meio rural. No final, o gambireiro leva 50% do que cortou. O restante fica com o dono da fazenda.]

Provavelmente, tenha sido essa a origem da madeira na fazenda do nobre ex-deputado – que já foi condenado por grilagem de terra no Distrito Federal. (Até grilagem de terra tem na política candanga.)

Já presenciei alguns gambireiros trabalhando. Eles têm as próprias motosserras e usam bois ou cavalos pra tirar o pau da mata. O desperdício é enorme. Segurança, então, nem pensar…Esquece.