A espiral da noite adentro

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Uma viagem abordo da Espiral da Morte – livro de Claudio Angelo sobre a mudança do clima

Sem querer estragar o Natal de ninguém com má notícia, A Espiral da Morte é uma excelente dica para quem procura um presente inteligente e comprometido para esse final de ano.

Ganhei o livro no final de semana passado da Cristiana e não consegui largar ainda. Tinha pensado em deixar para ler nas férias. Só que, no domingo à noite, esperando o sono chegar, resolvi abrir o livro só para ler as fotos. Resultado: consegui fechar apenas às três horas da manhã.

Não só pelo que tem de informação, mas principalmente pela narrativa ágil e factual. Com poucos números. Bem diferente dos textos sobre o tema que somos obrigados a ler, cheios de modelagens matemáticas, que parecem querer nos adiantar o Antropoceno.

A narrativa que Claudio tece é basicamente costurada a partir de bate-papo com os cientistas. E empestada de piadas. Bem ao gosto do autor, que nasceu na Bahia, aprendeu a tocar rock em Brasília e foi virar nerd em São Paulo.

Sou leitor empedernido de narrativas de viagens. Leio todo dia. Quando embarco nessas histórias, vejo as páginas do livro se repetindo como ondas que vêm bater no costado do navio, uma após a outra. Se for colhido por uma tempestade, me agarro às páginas do livro e sou o último a abandonar a embarcação.

Mas, se for à pique, não vejo a hora de bater em uma ilha ensolarada, para encontrar povos nativos ou, quem sabe, Charles Darwin observando tartarugas. Acho que isso que me levou madrugada adentro a bordo da Espiral da Morte.

Claudio Angelo acompanha o leitor em uma viagem às paisagens cheias de cores e cheiros da mudança do clima, onde as geleiras em colapso fazem barulho ao provocar terremotos. Jurupocas científicas vão e voltam pelo globo, levando cientistas barbudos, fedorentos para as profundezas dos oceanos ou dentro de uma caverna em Santa Catarina.  A cada página virada parece que o próprio Capitão Nemo estará à espreita, para nos levar reféns a bordo do Náutilus.

Tanto que comecei a ler passagens do livro para meu filho Pedro de 11 anos. Ele logo se ligou na exótica vida da Groenlândia, onde cocô se faz em balde e para ir ao cinema tem de pegar avião.

Aproveitei o gancho da viagem com a NASA para comentar que o tal Trump, que ele vê na TV, ameaça suspender as pesquisas que a agência faz no gelo. – Só porque ele ganha dinheiro com o petróleo. – O quê?! Reagiu Pedro, com olhos arregalados.

Ontem à noite, eu e ele começamos a ler o capítulo sobre os ursos-polares. Percebi que, enquanto lia, ele se imaginava dentro da história, jogando fut contra a Noruega numa banquisa, em pelo Ártico, sem poder deixar a bola cair na água gelada, nem tirar o olho da neblina, com medo de ser surpreendido por um bicho de 600 quilos que dá sprint de 30 km/h, como Claudio conta no livro.

Mas aí Pedro dormiu. O ano escolar acabou e ele tem chegado bem cansado à noite em casa.

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Professor Aronnax, a bordo do Náutilus, provavelmente lendo Júlio Verne

 

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