Regina Helen, de São Roque, que mantém o blog “Das Abelhas”, me formulou algumas questões sobre ecologia.
Achei uma boa oportunidade pra eu repassar minhas ideias . Vejam se já estou antiquado:
Oi Luiz,
Vou-lhe fazer algumas perguntas para, tendo as suas opiniões, poder refletir sobre, OK? Responda o que quiser… Colocarei alguns pontos de vista também para que rebate ou não, certo? Sou curiosa…
1-O aquecimento global acredita seja conseqüência dos nossos errôneos comportamentos ou fluxo cíclico da Natureza?
Na verdade nenhuma das duas coisas. Como já está provado cientificamente (inclusive com um prêmio Nobel da Paz de 2007 para os pesquisadores do IPCC), o planeta está aquecendo aceleradamente devido às emissões de gases de efeito estufa. Tal processo vem desde o início da Revolução Industrial, no séc. XVIII.
(Por isso que a crise do também é ética: os países que vêm poluindo há mais de 200 anos não deveriam assumir a maior parte da culpa?)
2-A preservação do meio ambiente, para você, é prioridade máxima? Como coloca as necessidades do Homem dentro desta prioridade?
3-Acredita que os verdes sejam sectarista sem amplitude para ver e pesar todos os lados da questão Meio Ambiente – Homem? quero imparcialidade, hem?
Resposta 2 e 3 – Esse dilema desenvolvimento econômico x meio ambiente é falacioso. Atualmente, essa dicotomia só serve como retórica para quem quer atacar o desenvolvimento sustentável (e está ganhando com a destruição do planeta).
As necessidades sociais e econômicas contemporâneas exigem uma nova forma de desenvolvimento para os países. Desenvolvimento que conjugue ganhos financeiros, com distribuição de renda e respeito ao meio ambiente.
Por exemplo, por que dar bilhões de crédito para alguns poucos desmatarem a Amazônia, criando gado, destruindo a floresta, sem gerar empregos e ainda provocando aquecimento global, se é possível criar uma econômica florestal, que conserva a Amazônia, gera renda para a região e salva o clima?
Parece óbvio, mas veja o quanto o BNDES tem liberado para a pecuária na Amazônia e compare o quanto o banco investiu no desenvolvimento de uma economia florestal na região.
Os pesquisadors do Instituto Floresta Tropical (IFT) calculam que, na última década, foram cerca de RS 10 bilhões em recursos públicos para o desenvolvimento da pecuária na região amazônica.
some tudo isso e vc vai entender minha revolta.
4-O que diz da incoerência? Dá para manter o discurso verde sem se trair pelas próprias ações, consumo…?
Claro que sim. Só acho que não estamos numa época de radicalismos. Temos de ir com calma. É hora de fazer pontes. Dialogar.
Afinal de contas não dá mais para voltar pras cavernas. Mas nem por isso temos de perpetuar as regras atuais de mercado.
Levar uma vida com baixas emissões diárias de carbono é possível, sim. É só calcular as próprias emissão e ir baixando cada vez mais. Sem necessidade de radicalizar. Dá pra ter conforto, dá pra continuar tendo prazer na vida.
O problema é o consumismo – que não é necessariamente sinônimo de conforto ou prazer.
Mas aí não é só ecológica, passa por outras questões também. Estudos mostram que o consumismo cresceu, nas últimas décadas, junto com a depressão, que já é considerada a doença do século XXI. As duas coisas estão relacionadas? Sem dúvida.
Por outro lado, qualquer educador sabe que, se tem alguma coisa que atrapalha a formação da criança, essa coisa é o consumismo. Comprar de mais, gastar de mais, viver pra descartar não faz bem pra cabeça de ninguém.
É flagrante nesse contexto a falta de valores que vivemos hoje na sociedade. O valor hoje é ter. E ter pra depois descartar.
Precisamos de gente que conjugue mais o verbo “ser”.
5 – Ser verde é moda ou conscientização? Qual a porcentagem dos ativistas que são verdadeiramente conscientes e coerentes e, dos que são para ser bacana?
As pessoas são complexas; as sociedades também; e o ambientalismo é humano. Há inúmeras tendências entre os ambientalistas (contraditórias, até). Há espaço pra todo tipo de caráter.
Quem é quem nessa história? Desconheço uma estátistica pra te adiantar, mas é só prestar atenção nas atitudes pra diferenciar os aproveitadores.
Sobre se ambientalismo é moda? Parece que há uma conscientização mundial em curso. Mas não sei qual o poder dessa onda. E temo que não haja tempo de salvar as florestas nativas.
Sei que, infelizmente, a natureza humana frequentemente decepciona. As pessoas se submetem às piores situações. Muitos aceitariam tranquilamente viver num mundo sem floresta e com chuva ácida. Outros até acham que valeria a pena viver num mudo mais quente, com tanto que pudessem trocar de carro todo ano.
Por outro lado, outros seguem lutando por um mundo mais justo…
6-Para você qual seria o caminho do meio? Dá para se ter um caminho do meio dentro de um sistema em que o consumo é mola propulsora para a satisfação/bem estar (ter é a base) do Homem?
Como já respondi, não se trata de uma questão de “cada lado cede um pouco”. Conservar a natureza não significa deixar a população na pobreza, sem desenvolvimento. Pelo contrário. O que causa a pobreza é o crescimento econômico sem respeito ao meio ambiente.
Vários estudos mostram isso. Qual a riqueza que o desmatamento da Amazônia tem gerado para a região? Visite as áreas rurais da serra carioca e paulista, onde a mata atlântica foi retirada, e veja se as pessoas que viviam ali ficaram mais ricas ou mais pobres.
O caminho que sugerimos é o desenvolvimento, sim. Mas um desenvolvimento que entenda as questões sociais e ambientais como ativo e não passivo econômico.
Um bom exemplo é a Lei de Gestão de Florestas Públicas (11.284/06) que regulamenta o uso econômico das florestas públicas, sem destruição ambiental e gerando renda às populações locais.